Quando Lionel Messi não está jogando, a Argentina ainda atrai as câmeras, as cores e a curiosidade — mas desta vez, o público foi menor, o barulho mais contido e o espetáculo estranhamente sereno. Em uma noite úmida em Miami, no Hard Rock Stadium, os atuais campeões do mundo venceram a Venezuela por 1–0 graças a um gol bem construído de Giovani Lo Celso — um momento de precisão em uma partida marcada mais pelo controle do que pelo caos.
Foi uma declaração silenciosa de uma equipe que aprende a prosperar sem seu talismã eterno. A Argentina não precisou de fogos de artifício; precisou de equilíbrio — e no pé esquerdo de Lo Celso, ela o encontrou.
Apenas 15 mil espectadores ocuparam o estádio de 65 mil lugares — uma presença surpreendentemente modesta para uma seleção que carrega o nome mais reverenciado do futebol mundial. Miami, que normalmente ferve quando a Albiceleste chega, parecia quase um laboratório desta vez. Sem Messi, sem a expectativa febril; apenas uma exibição eficiente e profissional sob as luzes da Flórida.
O camisa 10 do Inter Miami assistia das arquibancadas, relaxado, cercado pela família e pelos amigos, ocasionalmente sorrindo para o campo abaixo, mas sem qualquer inquietação. Afinal, isso fazia parte do plano — controle de carga, recuperação prolongada e o luxo de saber que sua vaga na seleção é intocável.
Para Lionel Scaloni, porém, a noite serviu a outro propósito. À medida que a Copa do Mundo de 2026 se aproxima, a Argentina precisa aperfeiçoar as camadas abaixo de seu brilho. Se Messi é o sol em torno do qual o time ainda orbita, a tarefa de Scaloni é garantir que existam estrelas de apoio suficientes para brilhar quando o céu escurecer. Contra a Venezuela, uma dessas estrelas foi Lo Celso.
O gol decisivo surgiu aos 31 minutos, desenhado com a geometria que se tornou símbolo do futebol argentino moderno — pés rápidos, ângulos inteligentes e calma sob pressão. Julián Álvarez iniciou a jogada, pressionando alto para recuperar a posse antes de enfiar um passe preciso por um corredor estreito.
Lautaro Martínez, sempre afiado dentro da área, fingiu avançar para o gol, arrastando defensores e abrindo espaço, enquanto Lo Celso aparecia livre. Um toque para dominar, outro para finalizar — um chute cruzado que venceu José Contreras antes que ele pudesse reagir.
Foi o oitavo gol de Lo Celso pela seleção e talvez o mais simbólico. Um jogador que já foi titular incontestável sob o comando de Scaloni, até que as lesões quebraram seu ritmo, agora reconstrói confiança e tempo de jogo. Sua atuação em Miami soou como uma retomada — um lembrete de que, quando está em plena forma, ele continua sendo um dos principais motores criativos da Argentina.

A Argentina poderia ter feito mais gols. Álvarez acertou a trave no início, e Lautaro errou por pouco em um desvio no primeiro pau. Nahuel Molina impressionou nas ultrapassagens, atacando com a mesma energia que exibiu na Copa do Mundo. Ainda assim, apesar de toda a dominância, a Argentina raramente engatou a quinta marcha.
Em vez disso, administrou. Os passes circularam de forma deliberada; a pressão aparecia em lampejos, não em labaredas. No banco, Scaloni parecia satisfeito — não buscava um espetáculo, apenas executava a rotina.
Pode-se dizer que havia uma frieza quase europeia em sua atuação: madura, medida, mecânica. O time que antes dependia do caos agora controla o ritmo como um metrônomo.
Por duas décadas, toda conversa sobre a Argentina acabava girando em torno de uma única questão: o que acontece quando Messi não está lá? A sexta-feira trouxe mais uma resposta cautelosa — a máquina continua funcionando.
Sim, falta a magia, a impossibilidade de invenção que só Messi oferece, mas ela funciona com propósito. O grupo de Scaloni evoluiu para operar com inteligência coletiva. As rotações no meio-campo entre Enzo Fernández, Alexis Mac Allister e Rodrigo De Paul deram estrutura, enquanto Álvarez e Lautaro alternavam entre as faixas e o centro com fluidez crescente. O ataque argentino já não parece depender de um único batimento cardíaco.
Para Scaloni, essa autonomia é vital. “Precisamos estar sempre preparados para qualquer cenário”, disse ele antes da partida. “Leo muda tudo para nós, mas temos que estar prontos quando ele não está. Essa é a nossa responsabilidade.”
Os números reforçam essa versatilidade silenciosa. Desde que Messi começou seu período de ausência por precaução física, no início de setembro, a Argentina não perdeu nenhuma partida — mantendo uma invencibilidade que já chega a 22 jogos em todas as competições.
Essa estabilidade fala menos de talento individual e mais de cultura institucional — a marca registrada dos campeões.
Para fazer justiça, a Venezuela encarou o jogo com organização e convicção. Sob o comando de Fernando Batista — ele próprio argentino de nascimento — a Vinotinto apresentou disciplina defensiva, armando armadilhas no meio-campo e tentando contra-ataques pelos flancos.
Sua melhor sequência veio no meio do primeiro tempo, quando Yeferson Soteldo escapou pela intermediária argentina, cortou para dentro e finalizou rente à trave. Foi um dos raros momentos que arrancaram um suspiro coletivo das arquibancadas esparsas.
Mas a diferença de qualidade falou mais alto. A linha defensiva venezuelana, esforçada mas sobrecarregada, teve dificuldades diante das rotações argentinas. Por volta dos 70 minutos, o desenho tático já se desmanchava. As entradas de Paulo Dybala e Nicolás González ampliaram ainda mais o desequilíbrio, esticando os defensores até o limite.
Embora o jovem goleiro Contreras tenha se destacado com defesas reflexas, o abismo entre a fluidez coletiva das duas equipes ficou evidente. Para a Argentina, foi rotina; para a Venezuela, resiliência recompensada apenas por um placar digno
A Argentina sem seu ícone, mas ainda no controle
Quando Lionel Messi não joga, a Argentina ainda atrai câmeras, cores e curiosidade — mas desta vez, o público foi menor, o barulho mais contido e o espetáculo, curiosamente sereno. Em uma noite úmida em Miami, no Hard Rock Stadium, os atuais campeões do mundo venceram a Venezuela por 1 a 0 graças a um gol de Giovani Lo Celso, construído com precisão — um momento de exatidão em uma partida marcada mais pelo controle do que pelo caos.
Foi uma declaração silenciosa de uma equipe aprendendo a prosperar sem seu talismã eterno. A Argentina não precisou de fogos de artifício; precisou de equilíbrio — e no pé esquerdo de Lo Celso, encontrou-o.
Apenas 15 mil espectadores ocuparam o estádio de 65 mil lugares — uma presença surpreendentemente modesta para uma seleção que carrega o nome mais reverenciado do futebol mundial. Miami, que normalmente vira um caldeirão quando a Albiceleste chega, parecia quase um experimento desta vez. Sem Messi, sem euforia; apenas uma atuação eficiente e profissional sob as luzes da Flórida.
O camisa 10 do Inter Miami estava nas arquibancadas, relaxado, cercado por familiares e amigos, sorrindo ocasionalmente para o campo abaixo, mas sem inquietação. Afinal, isso fazia parte do plano — carga de trabalho administrada, recuperação prolongada e o luxo de já saber que seu lugar na seleção é intocável.
Para Lionel Scaloni, no entanto, a noite teve outro propósito. Com a Copa do Mundo de 2026 se aproximando, a Argentina precisa refinar as camadas por trás de seu brilho. Se Messi é o sol em torno do qual o time ainda orbita, a tarefa de Scaloni é garantir que as estrelas de apoio possam brilhar quando o céu estiver nublado. Contra a Venezuela, uma dessas estrelas foi Lo Celso.
O gol decisivo saiu aos 31 minutos, criado com a geometria que passou a simbolizar o futebol argentino moderno — pés rápidos, ângulos inteligentes e calma sob pressão. Julián Álvarez iniciou a jogada, pressionando alto para recuperar a posse antes de enfiar um passe preciso por um corredor estreito.
Lautaro Martínez, sempre afiado dentro da área, fez o movimento em direção ao gol, arrastando os defensores e abrindo espaço, enquanto Lo Celso surgia livre. Um toque para dominar, outro para finalizar — um chute cruzado que venceu José Contreras antes que ele pudesse reagir.
Foi o oitavo gol de Lo Celso pela seleção e talvez o mais simbólico. Antes peça-chave sob o comando de Scaloni, suas lesões interromperam o ritmo; agora o meio-campista reconstrói confiança e tempo de jogo. Sua atuação em Miami soou como uma retomada — um lembrete de que, quando está em plena forma, continua sendo um dos motores criativos da Argentina.
A Argentina poderia ter feito
mais. Álvarez acertou a trave cedo, e Lautaro quase marcou em um desvio de primeira. Nahuel Molina se destacou pela direita, avançando com a energia de seus dias de Copa do Mundo. Ainda assim, apesar da superioridade, a equipe raramente acelerou ao máximo.
Em vez disso, administrou. Os passes circularam de forma deliberada; a pressão foi intermitente. O banco de Scaloni parecia satisfeito — o time não buscava um espetáculo, apenas rotina.
Havia até uma frieza quase europeia na atuação: madura, medida, mecânica. A equipe que antes dependia do caos agora regula o ritmo como um metrônomo.
Por duas décadas, toda conversa sobre a seleção argentina inevitavelmente voltava a um tema: o que acontece quando Messi não está lá? A sexta-feira ofereceu mais uma resposta cautelosa — a máquina continua funcionando.
Sim, falta a magia, a invenção impossível que só Messi proporciona, mas há propósito. O time de Scaloni evoluiu para operar com inteligência coletiva. As rotações entre Enzo Fernández, Alexis Mac Allister e Rodrigo De Paul deram estrutura, enquanto Álvarez e Lautaro alternaram posições com fluidez crescente. O ataque argentino já não depende de um único coração.
Para Scaloni, essa autonomia é essencial. “Precisamos estar prontos para qualquer cenário”, disse ele antes da partida. “Leo muda tudo para nós, mas temos que estar preparados quando ele não estiver. Essa é a nossa responsabilidade.”
As estatísticas reforçam essa versatilidade discreta. Desde que Messi começou a ser poupado por questões físicas no início de setembro, a Argentina não perdeu — mantém uma invencibilidade de 22 jogos em todas as competições.
Essa estabilidade fala menos de brilho individual e mais de cultura institucional — marca de campeões.
A Venezuela, por sua vez, mostrou flashes de disciplina e organização, mas raramente ameaçou o gol de Emiliano Martínez. Seu plano era claro: linhas compactas, transições rápidas e exploração dos corredores deixados pelos laterais argentinos.
No entanto, a execução foi hesitante. Josef Martínez ficou isolado, e Yeferson Soteldo, tão criativo quanto imprevisível, foi engolido pela dupla de meio-campistas De Paul e Mac Allister. O time de Fernando Batista, que conhecia bem muitos de seus oponentes por sua passagem anterior nas categorias de base argentinas, parecia respeitosamente cauteloso — talvez demais.
No final, o placar apertado refletiu mais a economia argentina do que qualquer ameaça venezuelana. Quando a Argentina queria acelerar, podia. Quando não queria, não precisava.
Com a vitória, a Argentina continua invicta desde a final da Copa do Mundo. Mais importante, Scaloni ganhou respostas — algumas pequenas, outras significativas. Lo Celso está de volta à forma. Enzo Fernández recupera o ritmo. Lautaro continua marcando. E, talvez o mais encorajador de tudo, a equipe mostrou maturidade tática sem depender de Messi.
O próximo desafio será encontrar equilíbrio entre preservar o legado e construir o futuro. Messi continuará sendo o centro do universo argentino até pendurar as chuteiras — mas, por noites como esta em Miami, Scaloni pode olhar ao redor e ver um céu cada vez mais cheio de estrelas.